A visão da Umbhanda em relação à existência de um Grande Pai e uma Grande Mãe transcende as fronteiras históricas e filosóficas, proporcionando uma compreensão única do Ser Superior. Ao longo dos tempos, diversos sacerdotes, filósofos e historiadores apresentaram uma ampla variedade de interpretações sobre a existência, forma, atitudes e atuação desse Ser Supremo, denominado de diversas maneiras ao longo dos séculos.
Observa-se que, aproximadamente cinco mil anos atrás, a Religião Antiga, cultuadora da Natureza, reverenciava um Ser Supremo como "A Deusa", a Mãe geradora de tudo e todos. Contudo, com a ascensão da cultura hebraica, a adoração voltou-se para um Deus masculino, iniciando um sistema patriarcal que suprimiu o culto à Grande Deusa.
Esse redirecionamento, influenciado pelo patriarca hebreu Abraão, estabeleceu um monoteísmo onde o Divino foi dissociado da Natureza. A transição para um culto ao Pai Supremo introduziu a ideia de alguns seres como seus porta-vozes exclusivos, autodenominados "o povo de Deus".
Esta abordagem monoteísta resultou na seleção de escritos como códigos supremos, tais como a "Bíblia" (Antigo Testamento) e o "Alcorão". Aqueles que não seguissem esses escritos eram considerados meras criaturas, não filhos de Deus.
Esses textos sagrados, muitas vezes interpretados como revelações divinas, estabeleceram regras rígidas a serem seguidas, sob ameaça de punições severas e até mesmo a danação eterna no "fogo do inferno".
No entanto, análises contemporâneas indicam a impossibilidade prática de viver estritamente de acordo com os ditames do Antigo Testamento nos dias atuais.
Esses escritos também manipularam concepções, induzindo a crença de que apenas alguns "eleitos" estariam aptos a guiar a vida material e espiritual de toda uma comunidade. O conceito de "Nós somos a imagem e semelhança de Deus" foi distorcido para criar uma hierarquia na qual apenas alguns seriam verdadeiros porta-vozes da Divindade Suprema.
A visão umbhandista destaca a importância de reconhecer que todos são portadores da presença viva do Deus Pai e Mãe. A Umbhanda propõe que todos compartilham as mesmas qualidades, atributos e atribuições do Pai Maior, desafiando a noção de uma elite espiritual.
Ao contrário das interpretações negativas presentes em alguns trechos do Antigo Testamento, a Umbhanda promove a igualdade espiritual, rejeitando a ideia de que alguns são "escolhidos" enquanto outros são condenados.
Na Umbhanda, a divindade é entendida como uma energia universal, sem limitações ou restrições, e todos são vistos como manifestações dessa energia divina. Essa perspectiva não apenas rompe com padrões patriarcais, mas também promove a unidade espiritual, lembrando a todos que a presença do divino está intrinsecamente ligada à essência de cada ser.
Toda essa trajetória histórica retirou do ser humano a responsabilidade consciente de reconhecer a presença do Ser Supremo em todas as coisas e em todos os seres. Na visão umbhandista, desde as formas mais simples de vida até as mais complexas, pulsa a presença viva do Criador.
Essa consciência diária da divindade, segundo a Umbhanda, deveria transcender fronteiras e locais específicos, sem a necessidade de castas sacerdotais ditatoriais que limitam ou castram a conexão espiritual, preservando assim a integridade da Divindade na Natureza.
Ao tentarem monopolizar Deus, algumas interpretações religiosas impedem que as pessoas acessem diretamente a divindade. Em contraste, a Umbhanda, como uma religião sem mistérios, permite que o divino se manifeste livremente no povo, independentemente de hierarquias ou complexidades ritualísticas.
Deus, segundo a Umbhanda, está presente em todas as coisas e em todos os seres, manifestando-se em diversas formas. Abrir-se para essa presença divina, aceitar sua existência sagrada, explorar nossos talentos e permitir que essa energia sagrada se manifeste no corpo e no espírito são caminhos sugeridos pela Umbanda para vivenciar a divindade.
Ao observarmos a história, percebemos que muitas grandes guerras foram justificadas e conduzidas com base em interpretações de escritos considerados divinos, frequentemente originados de falsas interpretações da Bíblia (Antigo Testamento), do Alcorão e outros textos sagrados. Essas interpretações equivocadas foram responsáveis por preconceitos, perseguições e intolerâncias ao longo dos tempos.
A Umbhanda sugere que, se o Evangelho fosse não apenas pregado como regra de vida, mas também adotado como base exemplar para a formação das leis que regem as nações, a paz e a união poderiam prevalecer globalmente.
A crença na existência de um Deus Pai, conforme a Umbhanda, não o define como um ser andrógino, mas sim como masculino, ativo e fecundador. A indagação sobre como Deus cria tudo levanta questões fundamentais que a Umbhanda aborda em sua compreensão única da espiritualidade universal. Essa abordagem, em contraste com interpretações mais rígidas, destaca a complexidade e a diversidade do divino na criação.
Obrigado pela sua tenção e siga na leitura de outras postagens e novos artigos.
MESTRE KALUANÃ – Sacerdote Umbhandista e Juremeiro
Comentários